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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Por que utilizar a metodologiade projetos na Educação Espírita Infanto Juvenil?


Por que utilizar a metodologia de projetos na Educação Espírita Infanto juvenil?

Irty Kaliny

Pedagoga, membro da Área de Educação do Instituto de Intercâmbio do Pensamento Espírita de Pernambuco – IPEPE.

Os estudos do Espiritismo com crianças e adolescentes, em geral, refletem as diversas práticas das escolas de ensino regular. Tais práticas estão baseadas em concepções de homem, de mundo e de educação que lhes dão sentido ao refletir um tempo histórico e uma sociedade com suas demandas políticas, econômicas, culturais e sociais.

É importante que as instituições espíritas tenham consciência de quais são as concepções norteadoras de seus trabalhos com a infância e juventude. Isto significa que, no momento de escolher uma metodologia para o estudo espírita destinado a este público, é preciso ter clareza do que está implícito em cada prática existente. Para tanto, é fundamental considerar as características do objeto de estudo (a Doutrina Espírita), do grupo, dos trabalhadores desta área, da instituição e da comunidade em que está inserida.

Atualmente, os estudos realizados em diversas universidades do mundo apontam a Metodologia de Projetos como uma ferramenta metodológica versátil, que se adequa a necessidades e realidades diferentes. Esta Metodologia está baseada em concepções de ensino e de aprendizagem contemporâneas, nas quais todos os envolvidos no processo são provocados a encontrar, nos conhecimentos produzidos pela humanidade, soluções para problemas e desafios reais. Um projeto didático trata-se de:

(...) uma pesquisa ou uma investigação, mas desenvolvida em profundidade sobre um tema ou um tópico que se acredita interessante conhecer. (...) é um esforço investigativo, deliberadamente voltado a encontrar respostas convincentes para questões sobre o tema. (ANTUNES, 2001, p. 15).

Todo projeto parte de um problema ou situação desafiadora a ser resolvida da melhor forma possível. Para isto, a criatividade e as diferenças individuais dos integrantes do grupo são valorizadas e consideradas fundamentais, pois ampliam o horizonte das percepções do problema em foco, bem como multiplicam as possibilidades de solução e de estratégias para alcançá-las.

Desse modo, os conteúdos deixam de ser estudados porque alguém disse que é preciso e passam a ser buscados como instrumentos preciosos para a compreensão e a intervenção no mundo. Assim, esta metodologia contribui para que os sujeitos da aprendizagem possam analisar criticamente o meio no qual estão inseridos, aguçando a curiosidade filosófica e, ao serem mobilizados por uma situação observada, buscar, com autonomia e criatividade, formas de intervir na realidade visando encontrar uma solução.

Com o intuito de educar para a vida, a Metodologia de Projetos deve considerar processos pedagógicos que envolvam a responsabilidade, o respeito, a igualdade, a auto direção, a autonomia, a proposição de soluções múltiplas, o pensamento independente, enfim, a vivência da democracia em ações, atos e atitudes que levem à aprendizagem. (BEHRENS, 2008, p.38).

A presença constante de atividades em grupo, de debates, de socializações de experiências e pesquisas realizadas em diversas fontes, oportuniza o desenvolvimento da autonomia, do fazer científico e do senso crítico de todos os envolvidos. Como todos têm a meta de produzir algo que responda ao problema inicial, há um clima de colaboração e as aulas ficam, naturalmente, mais movimentadas e prazerosas, além de elevar a autoestima de todos os envolvidos na medida em que as etapas vão sendo superadas. Além disto, estas atividades oferecem a vivência do que o educador Paulo Freire chamou de “escuta amorosa”, na qual todos ouvem com atenção a fala do outro e o respeito às diferenças individuais, sobretudo no que se refere ao pensar diferente, é exercitado. O diálogo é constantemente usado na mediação de conflitos visando ao bem comum e à autogestão.

O trabalho baseado na Metodologia de Projetos abre a possibilidade de se explorar os conteúdos programados dentro de situações reais de uso, desta forma, a aprendizagem torna-se mais significativa, ampla e aprofundada, pois não ocorre em apenas uma aula, mas ao longo de um período. Como a aprendizagem acontece dentro de um contexto, ao vivenciar situações semelhantes, a criança ou o jovem tem mais possibilidades de conseguir utilizar os conhecimentos adquiridos, demonstrando que as aprendizagens não ficaram apenas no campo do saber, pois estão presentes em seu dia a dia através de suas atitudes e procedimentos.

Como as crianças e jovens passam a compartilhar o poder de decisão sobre o que, por que e como estudar, em geral, desenvolvem a autonomia, demonstram maior interesse nas aulas e compromisso na realização das atividades. Isto também é vivido pelos educadores na relação com a coordenação e a direção do Centro uma vez que deixam de receber os planos de aula prontos e passam a elaborá-los com base nas necessidades e escolhas definidas conjuntamente no grupo. Desta forma, o educador também desenvolve sua autonomia e criatividade.

Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. (FREIRE, 1996, p. 120-121)

O educador é constantemente desafiado a ampliar e a aprofundar os seus estudos e habilidades, uma vez que não se trata de dar uma aula sobre um assunto que domine, determinando o que deve ser ensinado, direcionando as atividades desta ou daquela forma. Trata-se de ajudar o grupo a alcançar um desafio escolhido, buscando junto, nos conhecimentos e habilidades (já presentes no grupo ou construídos ao longo do projeto), as ferramentas adequadas e a melhor forma de utilizá-las.

Segundo Paulo Freire, “(...) ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (1996, p. 52). Assim, o educador pode sentir-se livre para assumir que não sabe o suficiente sobre algo, pois não se coloca na sala de aula como aquele que sabe e vai passar o seu conhecimento como se fizesse uma transfusão de saberes, mas como aquele que está junto para pesquisar, apoiar e orientar os estudos.

Ao buscar resolver um problema, podem surgir situações que extrapolem as condições de o grupo resolver por si só, ou que poderiam ter um resultado bem melhor se unissem forças com outros grupos. Neste contexto, o trabalho com projetos didáticos pode abrir espaço para interações e parcerias com pais, outras turmas, coordenações e instituições, inclusive as não espíritas como ONG’s, igrejas, postos de saúde, bibliotecas e escolas, Corpo de Bombeiros, Conselho Tutelar, dentre outros.

Essas articulações entre diversos agentes e diferentes instituições, são essenciais num processo de renovação social, quando, segundo Kardec,

(...) todos os obstáculos à nova ordem de coisas queridas por Deus, para transformação da Terra, terão desaparecido; a geração que se levanta, imbuída de idéias novas, terá toda a sua força, e preparará o caminho daquela que inaugurará o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença pela prática da lei evangélica.(KARDEC, 1863, 252)

O desenvolvimento de projetos didáticos oportuniza o exercício dessa união, paz e fraternidade postas por Kardec, pois instiga todos os agentes envolvidos no processo a se portarem de maneira participativa, colaborativa e respeitosa.

A Metodologia de Projetos pode contribuir para a melhoria do trabalho realizado nas instituições espíritas, pois colabora para formar homens de bem. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo,

O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros tudo aquilo que queria que os outros fizessem por ele. (...) É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos como irmãos. Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele. (KARDEC, 2005, 222-223)

As concepções e práticas vivenciadas por meio da metodologia de projetos podem ser um instrumento para que os diversos agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem sejam capazes de perceber o que se passa ao seu redor. O projeto possibilita o exercício do colocar-se no lugar do outro. É uma alternativa para educandos e educadores se sensibilizarem, extrapolando a esfera do conhecimento a fim de mobilizar saberes e agregar pessoas na busca de soluções para problemas individuais e coletivos.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. Um método para o ensino fundamental:o projeto. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 4ª ed. Na Sala de Aula, Fascículo 7.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portifólio. Petrópolis: Vozes, 2008. 2ª edição.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.São Paulo: Paz e Terra, 1996. 22ª edição. Coleção Leitura.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires. São Paulo: LAKE, 2005. 60ª edição.

KARDEC, Allan. Período da luta.Revista Espirita: Jornal de Estudos Psicológicos, 6º ano, nº 12, dezembro de 1863. Disponível em: < http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/revista-espirita-1863.pdf> Acesso em: 16/11/2012

 

Um comentário:

  1. Uma bela mensagem que mostra bem como se fazer a educação infanto juvenil.
    Beijos.

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