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sábado, 8 de setembro de 2012

O Estranho Mundo dos Suicidas


O Estranho Mundo dos Suicidas
Frederico Francisco
A IMAGEM É UMA INDICAÇÃO DE LEITURA

Frequentemente somos procurados por iniciantes do Espiritismo, para explicações sobre este ou aquele ponto da Doutrina. Tantas são as perguntas, e tão variadas, que nos chegam, até mesmo através de cartas, que chegamos à conclusão de que a dúvida e a desorientação que lavram entre os aprendizes da Terceira Revelação partem do fato de eles ainda não terem percebido que, para nos apossarmos dos seus legítimos ensinamentos, havemos de estabelecer um estudo metódico, parcelado, partindo da base da Doutrina, ou exposição das leis, e não do coroamento, exatamente como o aluno de uma escola iniciará o curso da primeira série e não da quarta ou da quinta.
Desconhecendo a longa série dos clássicos que expuseram as leis transcendentes em que se firmam os valores da mesma Doutrina, não somente nos veremos contornados pela confusão, impossibilitados de um sadio discernimento sobre o assunto, como também o sofisma, tão perigoso em assuntos de Espiritismo, virá em nosso encalço, pois não saberemos raciocinar devidamente, uma vez que só a exposição das leis da Doutrina nos habilitará ao verdadeiro raciocínio.
Procuraremos responder a uma dessas perguntas, de vez que nos chegou através de uma carta, pergunta que nos afligiu profundamente, visto que fere assunto melindroso, dos mais graves que a Doutrina Espírita costuma examinar. A dita pergunta veio acompanhada de interpretações sofismadas, próprias daquele que ainda não se deu ao trabalho de investigar o assunto para deduzir com a segurança da lógica. Pergunta o missivista:
- Um suicida por motivos nobres sofre os mesmos tormentos que os demais suicidas? Não haverá para ele uma misericórdia especial?
E então respondemos:
- De tudo quanto, até hoje, temos estudado, aprendido e observado em torno do suicídio à luz da Doutrina Espírita, nada, absolutamente, nos tem conferido o direito de crer que existam motivos nobres para justificar o suicídio perante as leis de Deus. O que sabemos é que o suicídio é infração às leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de suicidas são unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a amargura da situação em que se agitam, consequentes do seu impensado ato. Muitos deles, como o grande escritor Camilo Castelo Branco, que advertiu os homens em termos veementes, em memorável comunicação concedida ao antigo médium Fernando de Lacerda, afirmam que a fome, a desilusão, a pobreza, a desonra, a doença, a cegueira, qualquer situação, por mais angustiosa que seja,, sobre a Terra, ainda seria excelente condição "comparada ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio".
Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.
Num suicídio violento como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro, ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, consequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.
Entretanto, tais consequências não decorrerão como castigo enviado por Deus ao infrator, mas como efeito natural de uma causa desarmonizada com as leis da vida e da morte, lei da Criação, portanto. E todo esse acervo de males será da inteira responsabilidade do próprio suicida. Não era esse o seu destino, previsto pelas leis divinas. Mas ele próprio o fabricou, tal como se apresenta, com a infração àquelas leis. E assim sendo, tratando-se, tais sofrimentos, do efeito natural de uma causa desarmonizada com leis invariáveis, qualquer suicida há de suportar os mesmos efeitos, ao passo que estes seguirão seu próprio curso até que causas reacionárias posteriores os anulem.
No caso proposto pelo nosso missivista, poderemos raciocinar, dentro dos ensinamentos revelados pelos Espíritos, que o suicida poderia ser sincero ao supor que seu suicídio se efetivasse por um motivo nobre. Os duelos também são realizados por motivos que os homens supõem honrosos e nobres, assim como as guerras, e ambos são infrações gravíssimas perante as leis divinas. O que um suicida suporia motivo honroso ou nobre, poderia, em verdade, mais não ser do que falso conceito, sofisma, a que se adaptou, resultado dos preconceitos acatados pelos homens como princípios inabaláveis.
A honra espiritual se estriba em pontos bem diversos, porque nos induzirá, acima de tudo, ao respeito das mesmas leis. Mas, sendo o suicida sincero no julgar que motivos honrosos o impeliram ao fato, certamente haverá atenuantes, mas não justificativa ou isenção de responsabilidades. Se assim não fosse, o raciocínio indica que haveria derrogação das próprias leis de harmonia da Criação, o que não se poderá admitir.
Quanto à misericórdia a que esse infrator teria direito como filho de Deus, não se trataria, certamente, de uma "misericórdia especial". A misericórdia de Deus se estende tanto sobre esse suicida como sobre os demais, sem predileções nem protecionismo. Ela se revela no concurso desvelado dos bons Espíritos, que auxiliarão o soerguimento do culpado para a devida reabilitação, infundindo-lhe ânimo e esperança e cercando-o de toda a caridade possível, inclusive com a prece, exatamente como na Terra agimos com os doentes e sofredores a quem socorremos. Estará também na possibilidade de o suicida se reabilitar para si próprio, através de reencarnações futuras, para as duas sociedades, terrena e invisível, as quais escandalizou com o seu gesto, e para as leis de Deus, sem se perder irremissivelmente na condenação espiritual.
De qualquer forma, com atenuantes ou agravantes, o de que nenhum suicida se isentará é da reparação do ato que praticou com o desrespeito às leis da Criação, e uma nova existência o aguardará, certamente em condições mais precárias do que aquela que destruiu, a si mesmo provando a honra espiritual que infringira.
O suicídio é rodeado de complexos e sutilezas imprevisíveis, contornado por situações e consequências delicadíssimas, que variam de grau e intensidade diante das circunstâncias. As leis de Deus são profundas e sábias, requerendo de nós outros o máximo equilíbrio para estudá-las e aprendê-las sem alterá-las com os nossos gostos e paixões.
Assim sendo, que fique bem esclarecido que nenhum motivo neste mundo será bastante honroso para justificar o suicídio diante das leis de Deus. O suicida é que poderá ser sincero ao supor tal coisa, daí advindo então atenuantes a seu favor. O melhor mesmo é seguirmos os conselhos dos próprios suicidas que se comunicam com os médiuns: - Que os homens suportem todos os males que lhes advenham da Terra, que suportem fome, desilusões, desonra, doenças, desgraças sob qualquer aspecto, tudo quanto o mundo apresente como sofrimento e martírio, porque tudo isso ainda será preferível ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio. E eles, os Espíritos dos suicidas, são, realmente, os mais credenciados para tratar do assunto.
Revista Reformador de Março de 1964

22 comentários:

  1. difícil de julgar uma situação destas, né Zilda.
    só Deus pra nos fortalecer diante de tamanho ato de desespero.
    forte abraço

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    1. Não há muito o que julgar,só orar que é o de que precisam os espíritos suicidas.Bjss

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  2. Zilda, lá na UTI eu me reconheci diante de Deus como um espírito suicida e pedi perdão, independente de ser ou não espírita. Foi muito forte, isso no último dia (5ºdia) de UTI. Qdo acordei na UTI, eu não dormi mais, pois fechava os olhos e via imagens como flash de minhas filhas, mas tudo vermelho vinho, até mesmo qdo no meu útero eu as vi. Depois via cadáveres em desmoronamentos no barro, depois mãozinhas querendo me pegar. Tenho pra mim que esse seria meu inferno, ver minhas filhas e sentir o terrível remorso da bênção que reneguei ao tentar me matar e depois as assombrações horríveis. Somente após muita oração isso passou, não vejo mais esses flashs. Sinto que Deus me deu nova chance. Sou muito agradecida. Dou graças a Deus por isso profundamente.
    Beijinho, amiga.

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  3. Zilda,um assunto interessante e importante conhecer!Sempre existe uma segunda chance,numa nova encarnacao,mas por que atrasar ainda mais nosso aprendizado?bjs e bom final de semana!

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  4. Sabemos que a mídia não faz alusão a esses casos.Porém o número é grande. Eu tenho na família dois casos a mãe e minha tia irmã dela. Sei através da doutrina o grave erro que as duas praticaram. Sei o motivo grande sofrimento mas nada justifica. Rezo por todos que praticaram esse ato.

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  5. Zilda
    sabemos tao pouco, nós o comum dos mortais. O que penso é que quem comete esse ato, é numa fração de minuto, num desepero em que nem pensou. Não falo do premiditado, claro.
    Abraço

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  6. Lucas Durand.
    Muito proveitoso e didático o comentário.
    Grande abraço

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  7. Oi Zilda, a pessoa para praticar um ato desse tem que está muito desesperada e sem Deus no coração, não está firme na fé. Temos que participar de qualquer tipo de doutrina que esteja ligada com Deus rezar ou orar frequentemente, para não deixar coisas falarem no nosso ouvido a praticar este tipo de ato. Oração nunca é demais!

    beijos, Jaque

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  8. Olá Zilda,
    Quanto tempo, hein!
    Obrigada pelo texto! Passei aqui para desejar-lhe um lindo fim de semana. Bjim, Ramana

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  9. Já li esse livro. É realmente maravilhoso e esclarecedor!
    Bjoks

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  10. Não é uma atitude fácil de aceitar. Como assim tirar uma grande chance que Deus nos deu?
    Uma amiga tirou a própria vida e custo até hoje a acreditar no que ela fez. Ela era espírita e gostava demais da vida, mas por um problema emocional, foi ao fundo do poço e não soube voltar à tona. Foi uma morte dramática. Não conheço outro caso de suicídio entre as pessoas que convivo.
    Assisti um documentário, chamado "A Ponte" que é interessante assistir, no sentido de compreender o que se passa na mente de um suicida. Os relatos foram de pessoas que estiveram na eminência do ato. Recomendo!
    Boa semana!! Beijus,

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  11. Oi, passei aqui para conhecer o seu blog e adorei tudo!!

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